No último terço do século XIX e no século XX, o
grande progresso tecnológico veio alterar um status milenar. Os equipamentos e
facilidades modernas (saneamento, distribuição domiciliar de água e encanação
do gás, congelamento de alimentos, etc.) eliminaram grande número de tarefas
domésticas. Também reduziram o esforço e o tempo necessário para execução de
muitas outras, e – o que foi o mais importante –, permitiram um nivelamento do
requisito de aptidões: colocaram tarefas até então exclusivamente masculinas
factíveis por mulheres em grande número de setores, inclusive militar (portar
uma metralhadora que pesa 2 quilos e meio não exige o mesmo esforço que
combater metido em uma armadura de ferro de 70 quilos). Ao mesmo tempo, a
expansão econômica que acompanhou a modernização tecnológica contribuiu para
trazer a mulher a novas atividades, por necessidade de mão de obra.
Em pouco tempo eram legiões de moças solteiras
empregadas em escritórios e fábricas, bibliotecas e serviços públicos. As
mulheres casadas juntaram-se às trabalhadoras quando os orfanatos passaram a
prestar cuidados diaristas a crianças e bebês, surgindo dessa adaptação
instituições novas: as “creches” e os “jardins da infância”. Os pais podiam
sustentar a estrutura tradicional do lar tendo os filhos à noite e nos fins de
semana em sua companhia.
Mas a quebra daquela delimitação das funções, que
era precisa e de longo tempo aceita, não foi vista por todos como devida
naturalmente à modernização do trabalho tanto doméstico como assalariado.
Muitos viram na pretensão feminista uma descaracterização do Ser feminino, uma
masculinização, como se a mulher pretendesse exibir predicados masculinos,
repudiando os femininos. Por essa razão foram necessárias árduas campanhas em
favor de uma nova mentalidade – para que a mulher pudesse ter o novo status que
aspirava – e ainda se batalha para que receba o salário justo pelo seu
trabalho.
Direito de voto. Com sua maior participação no
panorama econômico, era justo e mesmo necessário que a mulher participasse
também das decisões políticas tomadas no controle da economia e do bem estar
social. Surgiu o movimento sufragista feminino (pelo direito do voto).
Sendo de fundo econômico, era natural que o
movimento sufragista tivesse origem simultânea nos dois paises economicamente
mais desenvolvidos: Inglaterra e Estados Unidos. Na França, apesar da
significativa participação das mulheres na Revolução Francesa – episódio que
foi um marco histórico para os Direitos Humanos – foram isoladas as vozes
femininas reivindicadoras do direito ao voto. Na época, o problema que
preocupava eram os maus tratos que os homens embrutecidos davam às suas
mulheres e filhos. As feministas, e inclusive os intelectuais que se condoíam
com a situação, escreviam contra a estupidez masculina, e prescreviam como
remédio melhor educação para homens e mulheres.
A importância da revisão do status feminino não
escapou ao filósofo John Stuart Mill (1806-1873), que publicou, em co-autoria
com sua esposa Harriet Taylor Mill (1807-1856) o livro Submition of the woman,
em 1869. Eles não enfocaram a educação, mas o direito de voto.
Grandemente traduzido e divulgado em diversos
países, o livro dos Mill, pela sua oportunidade e pelo seu novo enfoque, causou
grande impacto: era necessário revogar as leis originárias do poder absoluto
dos reis e do domínio das consciências pela Religião oficial do Estado, e
vencer a inércia das próprias mulheres pois, na opinião do filósofo, sem a
contribuição feminina o progresso do país ficaria comprometido. Em 1867 nasceu
a primeira associação feminista em prol do direito de voto, a National Society
for Woman’s Suffrage, liderada por Lydia Becker. Em 1919, com o apoio do
presidente democrata Wodrow Wilson, foi aprovada nos Estados Unidos a XIX
Emenda Constitucional que concedia o direito de voto às mulheres.
Na Inglaterra, no entanto, as próprias mulheres se
organizaram contra o voto feminino, reconhecendo o perigo que era para a
família tradicional a alteração do status feminino na sociedade. Uma forte
reação foi desencadeada pela Women's National Anti-Suffrage League (Liga
Nacional ante-sufragista) contra o voto feminino, liderada por uma escritora
muito lida, Mary Ward. Porém a premência econômica, sobretudo pelo esforço
demandado dos britânicos na sustentação da primeira guerra mundial (1914-1918)
e a demanda de mão de obra na recuperação econômica do pós-guerra, terminariam
por derrubar quaisquer barreiras à mudança do status feminino. Dez anos depois,
em 1928, o direito de voto foi concedido às mulheres britânicas.